Uma promessa de prêmios milionários, causas filantrópicas e e-books “transformadores” se espalha pelas redes sociais com velocidade de golpe de sorte. O que poucos sabem é que o Pix do Milhão, apresentado como uma plataforma de “livros digitais premiados”, poderia esconder um dos maiores esquemas de rifas ilegais do país, uma suposta loteria disfarçada de editora.
Na prática, cada “e-book” vendido funcionaria como um número de sorteio. Os compradores, atraídos por promessas de prêmios em dinheiro e sorteios diários, acreditariam estar adquirindo material educativo. Nos bastidores, porém, a operação poderia funcionar como uma rifa digital sem autorização da União.
O acervo da empresa somaria cerca de 198 títulos, mas um único cliente teria adquirido mais de 1.500 cotas, o que sugeriria um caráter de aposta, e não de compra de produto. Os regulamentos internos mencionariam expressões como “bilhetes em dobro”, “roleta da sorte” e “aproximação”, termos típicos de jogos de azar, e não de comércio editorial.
Em apenas um ano, milhões de reais circulariam pela plataforma. Segundo o regulamento oficial da Via Capitalização S.A. (processo SUSEP nº 15414.655038/2025-96), 41,75518% do valor arrecadado seria destinado a “despesas administrativas”, enquanto apenas 8,24482% iria para os prêmios e sorteios. Ou seja, menos de 10% do dinheiro estaria realmente sendo usado para premiar os participantes.
O documento, que define o chamado “carregamento total”, indicaria um desequilíbrio expressivo na destinação dos recursos. Especialistas ouvidos pela reportagem sugerem que a diferença de mais de 40% poderia indicar custos inflados, triangulação de valores ou até operações suspeitas de lavagem de dinheiro, hipótese que vem sendo considerada por órgãos de controle financeiro.
A investigação também apontaria que os pagamentos dos prêmios seriam feitos por meio da empresa Play 55, que não apareceria nas notas fiscais e atuaria em paralelo à estrutura oficial. Esse tipo de compartimentalização financeira seria típico de empresas que buscam dificultar o rastreamento tributário e disfarçar o fluxo real de capital.
O esquema por trás do Pix do Milhão
Por trás da operação estaria Rafael Cunha, conhecido nas redes sociais como “Viga” (abreviação de “Vigarista”), apelido que ganhou na época em que produzia vídeos de pegadinhas. Ele seria o fundador e rosto público do Pix do Milhão, além de manter vínculo com a PIX BET, empresa que estaria sob investigação da Justiça Federal por suspeitas de práticas irregulares no mercado de apostas.
Enquanto as denúncias se acumulam nas redes, “comprei e não recebi”, “perdi créditos”, “ninguém responde”, a empresa continuaria mudando de nome e CNPJ (de Aplicap para ViaCap) para confundir consumidores e escapar da fiscalização.
Na próxima reportagem, mostramos como o Pix do Milhão estaria fabricando seus e-books plagiando autores reais, com índices de cópia que chegariam a 98% e uso indevido de nomes e imagens de profissionais sem autorização.
Polêmica Paraíba
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